Como as vacinas não têm efeito a curto prazo, combater o mosquito e se proteger da picada são ações essenciais
Os números da dengue no Brasil em 2024 são assustadores. Até o dia 6 de março foram registrados mais de 1,2 milhão de casos prováveis, com 299 mortes confirmadas e 765 sob investigação. São estatísticas que se aproximam, em pouco mais de dois meses, das registradas nos 12 meses de 2023 – que, por sua vez, havia sido o segundo ano com maior número de casos no país (mais de 1,6 milhão) e aquele com o maior número de mortes (1.094). A subnotificação e os casos assintomáticos podem facilmente dobrar os números oficiais, o que leva à conclusão de que pelo menos um a cada 80 brasileiros contraiu dengue neste ano.
Projeta-se que os números da dengue continuarão avançando fortemente até maio, quando, pela experiência dos anos anteriores, o nível de contaminação costuma chegar ao auge. Para reduzir o ritmo de expansão da doença, as ações de prevenção são fundamentais, especialmente a eliminação ou vedação de focos de água parada que servem de criadouro para o mosquito Aedes aegypti, como vasos, pneus, calhas e caixas d’água descobertas.
“Oitenta por cento desses focos estão nas residências”, lembra a infectologista Michelle Zicker, do Grupo São Cristóvão Saúde.
Além de barreiras físicas na casa, como o uso de mosquiteiros e de telas nas janelas, recomenda-se que a proteção individual se dê com aplicação de repelente – o tipo mais eficaz contra o mosquito transmissor da dengue é o que contém icaridina, substância derivada da pimenta. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lembra que alternativas caseiras, como citronela, andiroba, lavanda e óleo de cravo, não têm comprovação científica de que afastam com eficácia o mosquito transmissor da dengue – por isso, devem ser consideradas, no máximo, como ação complementar de combate à doença.
Ao contrário de outros tipos de mosquito, o Aedes aegypti concentra suas atividades no período diurno, especialmente no início da manhã e no final da tarde. A temperatura alta também contribui para aumentar o nível de atividade da espécie, o que ajuda a explicar a maior incidência em áreas tropicais não apenas da dengue, mas também de outras doenças transmitidas pelo mesmo inseto, como zika e chikungunya.
Quanto maior a concentração de pessoas no mesmo ambiente, a dengue tende a se propagar com mais agilidade, fator que acende um alerta especificamente para condomínios.
Apesar do síndico ser responsável pela manutenção de áreas comuns, o combate à proliferação do mosquito transmissor também exige a colaboração de moradores no que cabe ao interior de suas unidades. Por isso, o SíndicoNet Clube disponibiliza orientações para eliminar os focos em diferentes formatos de downloads:
Os cuidados preventivos devem ser redobrados em perfis com maior chance de complicação, como crianças e adolescentes até 14 anos, pessoas acima de 65 anos, portadores de doenças graves ou crônicas, grávidas e puérperas. O risco multiplica-se, também, para quem teve dengue anteriormente.
O principal sintoma da contaminação costuma ser a febre alta repentina (acima de 39ºC), associada a pelo menos dois outros desses fatores: dor de cabeça, prostração, dores musculares e/ou articulares e dor atrás dos olhos. Diante desse quadro, deve-se buscar orientação médica imediatamente. É importante evitar a automedicação. Anti-inflamatórios e remédios à base de ácido acetilsalicílico podem favorecer o surgimento de hemorragias.
A dengue vem crescendo no Brasil nos últimos anos. No período entre 2019 e 2023, o número de casos subiu 43,2% e o de mortes 52% em comparação aos cinco anos anteriores, entre 2014 e 2018. Além do ciclo natural da doença, a maior incidência pode ter relação direta com fenômenos abrangentes, como a variação de prevalência entre os quatro subtipos do vírus, o aquecimento global e a redução dos cuidados de prevenção à dengue ocorrida durante a pandemia de covid-19, período em que o foco das ações esteve fortemente concentrado no combate ao coronavírus.
Jorge Tibilletti de Lara, historiador da saúde que estuda a trajetória da dengue no Brasil e está concluindo doutorado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), lembra que sintomas compatíveis com o da dengue vêm sendo registrados no Brasil desde meados do século 19, mas a doença só se tornou uma grande preocupação de saúde pública no país depois de um surto em 1986, iniciado em Nova Iguaçu (RJ).
O pesquisador enfatiza que a recente incorporação da vacina contra a dengue ao sistema público brasileiro não terá o mesmo efeito de “solução imediata” trazido pela imunização contra a covid-19. “O ritmo de produção e da vacinação será muito menor, de tal forma que os efeitos serão graduais e de longo prazo. A atitude fundamental agora continua sendo combater a proliferação do mosquito”, observa o pesquisador. Por enquanto, estão sendo vacinadas crianças e adolescentes na faixa entre 10 e 14 anos, por conta do maior índice de hospitalização por dengue nessa faixa etária.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, a região com maior porcentagem de casos de dengue é a sudeste, com maior concentração nos estados de Minas Gerais e São Paulo. Já o Distrito Federal, no Centro-Oeste é o local com mais mortes pela doença.
Fonte: https://www.estadao.com.br/saude/80-dos-focos-da-dengue-estao-nas-residencias/