Geladeiras, televisores, aparelhos de ar-condicionado, e vários outros itens acabam queimando com recorrência, devido à instabilidade.
Moradores de um condomínio com mais de 400 casas na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, convivem há décadas com quedas recorrentes de energia elétrica. O problema vem se intensificando e, nos últimos meses, as interrupções já ocorrem dezenas de vezes por semana, causando prejuízos materiais e transtornos na rotina dos mais de 1.500 moradores do local. Alguns picos são rápidos, mas outros demoram até 48h para serem resolvidos.
Os relatos dão conta de que a queda recorrente da energia já causou prejuízos imensos aos vizinhos. Geladeiras, televisores, aparelhos de ar-condicionado, e vários outros itens acabam queimando com recorrência, devido à instabilidade.
Além disso, um hospital que fica dentro do condomínio, o Rio Barra, da Rede D’Or, enfrenta recorrentes problemas de falta de luz. Outro estabelecimento que está localizado no local e é impactado é uma escola que atende do ensino infantil ao médio.
Marcus Monteiro já está há mais de três décadas no condomínio. Ele soma uma extensa lista de perdas nesses 30 anos e diz que, depois de várias tentativas, deixou de tentar conseguir ressarcimento dos prejuízos, devido à burocracia.
"Em 32 anos, o meu prejuízo aqui já soma dois projetores, dois receivers, telefone sem fio eu nem sei, micro-ondas já escangalhou acho que uma meia dúzia nesse tempo todo. Também várias geladeiras, freezer, televisão, rádio relógio, uma vergonha. E você tenta ser ressarcido pela Light e a burocracia é tão grande que você nunca consegue", relata.
Luciana Póvoa morava na Barra há mais de 18 anos. Ela se mudou há menos de um ano para o condomínio Rio Mar, e desde então passa por problemas recorrentes. Recentemente, ela ficou três semanas sem uma fase da energia funcionando e a Light precisou fazer escavações no jardim dela e de um vizinho para solucionar a questão, causando muitos transtornos.
"Se faltou luz duas vezes, três, nos quase 18 anos que eu morei lá, foi muito. Desde que eu vim morar aqui no Rio Mar, venho sofrendo com falta de luz momentânea, picos de luz, às vezes até em dias muito quentes de madrugada o ar-condicionado parando de funcionar. Eu estou realmente chocada, nunca tinha passado por essa experiência, por uma experiência e um serviço tão ruim para um serviço essencial como a luz", contou.
Com a intensificação do home office nos últimos anos, muitos moradores também acabam tendo suas rotinas de trabalho afetadas semanalmente pela queda de luz. Mas, além de toda a dor de cabeça e descontentamento, perdas financeiras e falta de resolução do problema, casos mais graves aconteceram nos últimos anos. O condomínio também abriga idosos e pessoas com deficiência, que recorrentemente passam por situações desesperadoras com a falta da luz.
Isso aconteceu com essa mãe, que preferiu não ser identificada. O filho dela, hoje já falecido, possuía paralisia cerebral. Em 2011, fez uma cirurgia muito delicada e estava em casa, usando aparelhos hospitalares. A energia caiu e a casa ficou por quase cinco horas sem luz, deixando a mãe em completo desespero.
"Havia uma bateria de emergência com autonomia de 6 horas. Acabou a luz e já fazia umas 4 horas e meia e a energia não voltava. Isso começou a me dar um desespero tão grande, porque se o equipamento se desligasse totalmente o meu filho teria que voltar para UTI do hospital e eu fiquei em pânico. Eu liguei, mandei SMS, mandei e-mail, fiz de tudo. Até ameacei dar queixa na delegacia e abrir uma ação judicial, e a Light ali só mandando o número de protocolo, aquela espera imensa para atender. Após 5 horas e meia sem luz, a energia retornou. E isso me marcou tanto que nos dias seguintes eu comecei a pesquisar geradores. Eu realmente estava disposta a ter um gerador na minha casa para que meu filho não corresse mais nenhum risco como esse", desabafou.
Ainda não há um diagnóstico da Light sobre o que vem causando tanto transtorno aos moradores. O relato dos vizinhos dá conta de que parte da rede elétrica feita pela empresa no condomínio é subterrânea, o que também dificulta o trabalho.
Em nota, a Light informou à CBN que enviaria equipes para avaliar possíveis melhorias. Segundo a empresa, em março foram realizados 55 serviços de manutenção na rede de distribuição de energia que atende o condomínio, como podas de árvores e reparos na rede elétrica. O local segue sendo mapeado e há manutenções programadas para maio e junho, com o objetivo de melhorar a qualidade do fornecimento de energia.
Apesar da nota, Ricardo Rodrigues, outro morador do condomínio, diz que as intervenções nunca resolveram o problema.
"Esse problema infelizmente não vem de hoje, há relatos aqui de vizinhos que moram há 20, 30 anos de que esse problema vem lá de trás. Mas o fato é que a Light quando resolve é sempre a base de um paliativo. Nunca vem fazer um trabalho estrutural aqui na área. Então na primeira chuva ou até um chuvisco como aconteceu semana passada a gente tem a queda de energia e a gente fica à mercê da boa vontade ou de uma insistência nossa para que seja resolvido o problema", finalizou o morador.
Fonte: https://cbn.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2024/05/24/condominio-da-barra-tem-quedas-de-luz-recorrentes-de-ate-48h-problemas-ja-dura-tres-decadas.ghtml